Ao menos na prática, começou a temporada de retorno às atividades interrompidas por causa da Covid-19. Se este seria ou não o momento, há discussões, mas o fato é que o governo do estado vai autorizando gradativamente as reaberturas e isso, por si só, parece ser um alento para alguns os setores econômicos. É um momento de voltar a ter algum faturamento, de repensar processos e de encontrar o tal “novo normal”.
Uma pesquisa da Deloitte com 662 empresas do país apontou que a pandemia tem causado mudanças nunca vistas antes e a tendência é que sejam ajustadas as previsões de produção, investimentos e custos. A previsão de recuperação deve variar entre seis e 18 meses, segundo 74% das respostas coletadas pela consultoria. Os impactos não são uniformes. A Deloitte indica que, enquanto os setores de Tecnologia da Informação (TI) e telecom tiveram aumento no volume de serviços, turismo, hotelaria e lazer e veículos e autopeças são os mais afetados.
Jayme Pires Neto, consultor-sócio da consultoria Gestão Descomplicada, reforça que neste momento não existe fórmula mágica e única para voltar aos trilhos. “Vemos hoje que há uma busca por entender esse ‘novo normal’ que vem depois da surpresa da pandemia. Havia um formato que funcionava, mas que deixa de fazer sentido e temos um mercado em dificuldade, tanto por questões econômicas como para se reencontrar em novos formatos. Os antigos não vão mais funcionar”, explica.
Pires se refere a mudanças de padrões e do comportamento de clientes e fornecedores, à necessidade de regular operações que até então não existiam. “A reabertura mostra isso. Ela veio com novas exigências. Além disso, temos a parte estratégica que foi construída olhando para um mercado que não existe mais”.
E a pergunta que ele levanta pode ser a mesma que está na mente de muitos empresários: como eu vou terminar este ano agora? O consultor aposta na tríade pessoas – processos – tecnologia como uma das chaves para este momento. “Temos uma pandemia que vai deixar impactos por gerações, mas não é um efeito apenas sanitário, mas reflexos na economia. Este, a gente não tem como mensurar ainda, mas, quando chegar o momento, as empresas precisam saber como lidar”.
É preciso entender que o planejamento feito para a empresa dificilmente fará sentido. Será preciso rever metas, processos internos e projetos, por exemplo. E será necessária uma rotina mais ágil e de constantes aprendizados, além de se render à aceleração digital (de forma inteligente e assertiva).
Faturamento
Sobreviventes à crise causada pelo coronavírus terão que se expor ao mercado e aprender. “Isso será mais fácil se há facilidade de agregação, quando outras empresas já tentaram e acertaram. Além disso, a aceleração digital é obrigatória”, continua Jayme Pires.
É necessário ainda ter ciência que o retorno do faturamento deve vir com o pensamento de que a crise permanece e é mais que importante valorizar o dinheiro que entra – ele é mais difícil e mais suado. “É um ‘respiro dolorido’, mas é uma volta, mesmo que seja para uma ‘normalidade frágil’. Mas não é mais surpresa. As empresas precisam enxergar ou serão engolidas por quem teve capacidade de pensar à frente”, avalia Pires.
Recomendações para a retomada (Informações da foto principal)
1. Revisite ou redefina sua estratégia: metas de longo prazo, identidade organizacional, projetos e programas poderão ter sido fortemente impactados
2. Revise ou modifique seu planejamento de curto prazo: adapte-o às estratégias de longo prazo da empresa
3. Entenda se as rotinas da empresa ainda fazem sentido: é fundamental estar pronto para o novo cenário
4. Capacite sua força de trabalho: é primordial que ela esteja apta às novas estratégia da empresa
5. Cuide do seu caixa e ciclo financeiro: em tempos de oscilação de recursos, estar preparado para potenciais reduções de receitas é primordial
“Sentimento” dos setores econômicos
INDÚSTRIA
“Temos observado o comportamento da indústria nas sondagens e nas pesquisas que realizamos e notamos que há uma perspectiva de retomada da confiança que tem a ver com o fato de o setor ter passado por dias difíceis e, agora, começar a sentir os efeitos da demanda reprimida. Isso, de certa forma, é uma luz no fim do túnel, mas sabemos que a retomada será gradual porque envolve também o apetite dos consumidores, que não está mais o mesmo depois da elevação dos índices de desemprego. Contudo, se tudo correr bem, se a doença não avançar e se não tiver recuo na flexibilização, de fato, a retomada gradual deve acontecer entre 6 e 18 meses, período em que as vendas dos bens duráveis e não duráveis reaquecerão”.
Maurício Laranjeira, gerente de Relações Industriais da FIEPE
COMÉRCIO
“Nosso levantamento mostra que o comércio levará entre 10 e 12 meses para voltar ao patamar de 2019, mas o setor vê com muita esperança o início da reabertura. O comércio representa em torno de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) e 60% da arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado. E apesar da esperança, a forma a retomada tem acontecido é preocupante, uma vez que o aumento do número de casos da Covid-19 poderá fechar novamente as lojas. As pessoas têm que fazer a parte delas e colocar na cabeça que a pandemia não acabou”.
Bernardo Peixoto, presidente da Fecomércio-PE.
TECNOLOGIA
“Empresas de base tecnológica sofrem os impactos da realidade de seus clientes, a depender do segmento do mercado. No nosso caso, não tivemos nenhum contrato cancelado e superamos a meta de vendas de projetos no período março-junho. No todo, o CESAR projeta um resultado para 2020 acima das metas estabelecidas. Inclusive, contratamos cerca de 100 pessoas em 2020, das quais quase 60 iniciaram suas atividades a partir de abril, o que significa dizer que já começaram conosco no regime de home office”.
Fred Arruda, CEO do CESAR
INDÚSTRIA AUTOMOTIVA
“Essa crise afetou todos os setores da economia em todo o mundo, e o resultado foi algo sem precedentes para o setor automotivo. Em abril, foram produzidos no Brasil apenas 1,8 mil veículos, um volume idêntico ao fabricado mensalmente em 1957, quando a indústria começava a se instalar aqui. Foi um recuo de seis décadas. A partir da metade de maio, a produção começou a ser retomada gradualmente, mas a reação do comércio de veículos é lenta e nos leva a prever que precisaremos de três anos para recuperar o nível de mercado de 2019. Projetamos para este ano uma queda de 40% em relação ao ano anterior”.
Antonio Filosa, presidente da FCA para a América Latina, que inclui o Polo Automotivo Jeep
CONSTRUÇÃO CIVIL
“Os efeitos da pandemia na construção civil são bastante nocivos às empresas, que tiveram suas atividades paralisadas por decreto estadual e aos seus colaboradores, que foram impedidos de laborar num ambiente controlado e tiveram suas rendas diminuídas. Estimamos que nestes mais de 70 dias de paralisação, a cadeia produtiva da construção deixou de gerar R$ 6 bilhões em negócios/investimentos e mais de 5 mil demissões ocorreram. Com a retomada a 100%, estamos capacitando nossos colaboradores e fornecendo todos os equipamentos necessários à prevenção do contágio e cumprindo todas as recomendações dos órgãos de fiscalização do trabalho e saúde”.
Fonte: Diário de Pernambuco